Sebastião Farinhada: cultura, arte e espiritualidade nas místicas da Escola Família Agrícola do Rio Grande do Sul

Monique Aline Arabites de Oliveira, Antônio Carlos Gomes, Marlon Bianchini

Mística, de forma ampla, refere-se às atividades cercadas de criatividade e sensibilização à luta em movimentos sociais. Historicamente instigada por uma vertente vanguardista da igreja, nas Escola Família Agrícola a mística está no abraço apertado. Durante a hora do almoço. No sorriso de cumplicidade entre o grupo antes do grito que move a própria mística: “Educação do campo é direito e não esmola!”. Tudo é pensado para atiçar o pelo, levar às lágrimas, instigar sentimentos. A essência da mística que é praticada nas Escolas Famílias Agrícolas do Rio Grande do Sul vem das EFA de Minhas Gerais, onde uma personagem importante para podermos contar nossa história nasceu: Sebastião Augusto Estevão, mais conhecido sob a alcunha de Sebastião Farinhada. Tião é peça chave para podermos compreender a mística e sua intrínseca ligação com as manifestações artísticas e culturais. Sebastião Farinhada é nome conhecido dentro dos movimentos sociais: militante do movimento negro, do movimento agroecológico e das questões relacionadas aos povos tradicionais quilombolas, além disso, é artista agroecológico e cantador popular. Farinhada utiliza da música, da cor, da brincadeira, da espiritualidade e da sabedoria popular para instigar as pessoas, colocá-las como protagonistas de suas lutas, fornecendo ânimo na resistência e na esperança de transformação. A partir de sua sensibilidade, ele nos chama a atenção para a simbologia de tudo que permeia nossa vivência: os jovens, o grito, as mãos dadas, a enxada, a pá, a foice, a terra. A proposta para essa conversa no VI Congresso Internacional sobre Culturas – edição online faz parte de uma ampla pesquisa sobre “arte, mística e cultura nas EFA do Sul” que está sendo realizada e que, dentre seus objetivos, visa reconhecer os sujeitos que fazem a luta se realimentar a cada dia e que instigaram a vinda do movimento EFA para o Rio Grande do Sul, como Tião Farinhada. Sendo assim, as metodologias escolhidas para apreciação e coleta dos dados foram a entrevista não-estruturada e observações, devido a autonomia intrínseca às mesmas e seus caráteres dialógicos. As conversas e observações foram realizadas em Minas Gerais durante o período dos dias 24 de setembro de 2018 a 01 de outubro de 2018, em Natalândia, onde estava acontecendo o evento IV Terreiro Cultural: somos todos filhos da capoeira, na Escola Família Agrícola de Natalândia. Recentemente, convidamos Sebastião Farinhada para realizar uma aula online para estudantes e educadores das EFA, que aconteceu no dia 15 de setembro de 2020 via chamada de vídeo. Sebastião Farinhada nos lembra que as místicas são orgânicas, pois são reinvindicação, arte, expressão e cultura. Trazem em sua essência a arte presente na vida e nos símbolos que circundam e existem no cotidiano da juventude do campo e na Agroecologia. Elas não são banais. São luta, são movimento e possuem como característica principal serem contra-hegemônicas. Sebastião é um ícone de luta e resistência.

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