Silêncio do Grito – Lugar de Fala

Flavia Pontes Espindola
Universidade Nova de Lisboa

O objeto de estudo escolhido para a pesquisa é o primeiro livro da autora brasileira Djamila Ribeiro, Lugar de Fala. O livro faz parte da coleção, organizada pela própria escritora, chamada Feminismos Plurais. De acordo com Djamila Ribeiro, a coleção tem o objetivo de trazer para o grande público questões importantes referentes aos mais diversos feminismos de forma didática e acessível. A serie de livros é fruto da produção de intelectuais de grupos historicamente marginalizados, agora, portanto, como sujeitos políticos.

O livro Lugar de Fala inaugura a coleção de Feminismos Plurais com tema feminismo negro. A linguagem é um mecanismo de manutenção de poder e um dos compromissos da coleção é que a produção de feministas negras una a sofisticação intelectual com a prática política de forma didática. Para a autora, pensar em feminismo negro é justamente romper com a cisão criada pela sociedade desigual. E logo, pensar em novos marcos civilizatórios e modelo de sociedade. O segundo compromisso da coleção é a divulgação de intelectuais mulheres negras, colocando-as na condição de sujeitos e seres ativos que historicamente vem fazendo resistências e reexistências. O livro está divido em seis capítulos, a apresentação, um pouco de história, mulher negra: o outro do outro, o que é lugar de fala?, todo mundo tem lugar de fala e notas e referências. Djamila Ribeiro é mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e foi secretária adjunta de Direitos Humanos de São Paulo. Em 2019, foi escolhida como “Personalidade do amanhã” pelo governo francês. De acordo com a BBC, Djamila Ribeiro é uma das 100 mulheres mais influentes do mundo.

Em seu primeiro livro, a escritora responde a pergunta: O que é lugar de fala?. No qual baseia-se todo o seu pensamento sobre o lugar social que as mulheres negras ocupam e que, de certa forma, é possível tirar proveito disso. A autora ressalta que a experiência de grupos localizados socialmente de forma hierarquizada e não humanizada faz com que as produções intelectuais, saberes e vozes sejam tratados de modo igualmente subalternizados, além das condições sociais os manterem num lugar silenciado estruturalmente. Entretanto, a filósofa destaca que o lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas. Com isso pretende refutar uma suposta “universalidade”, de acordo com a autora, representada pelos homens brancos. A escritora Djamila Ribeiro acredita que promover uma multiplicidade de vozes, acima de tudo, é quebrar com o discurso autorizado e único, que se pretende universal. Busca-se, portanto, lutar para romper com o regime de autorização discursiva. Pensar o ” Lugar de fala” seria uma postura ética pois pensar o lugar no qual falamos é fundamental para pensarmos hierarquias, questões de desigualdade, pobreza, racismo e sexismo. Ao grupo social privilegiado em termos de locus social é fundamental também que consigam enxergar as hierarquias produzidas a partir desse lugar e como impacta diretamente a constituição de grupos subalternizados.

Bibliografia:

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RIBEIRO. Djamila. Lugar de Fala. Feminismos Plurais, 2019. Instituto Pró-Livro

<< http://plataforma.prolivro.org.br/quem-somos/ >>

XAVIER, Giovana. Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando sua própria história. Editora Malê, 2019.

RIBEIRO. Djamila. Quem tem medo de feminismo negro, 2018. Editora Schwarcz.

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