Aline de Caldas Costa dos Santos, Camila Lacerda Lopes, Beatriz Souza Carvalho, Henrique Denis Correia dos Santos.
O filme Espelho d’água – uma viagem pelo Rio São Francisco é uma produção nacional lançada em 2004, com direção de Marcus Vinicius Cezar. Trata-se de uma narrativa que apresenta Henrique, um fotógrafo carioca, em missão de produzir um fotolivro sobre o Velho Chico. Henrique integra-se a um universo cultural ribeirinho complexo e plural. A trama enfatiza um universo mítico e religioso que rege o cotidiano local, marcando o tempo em ciclos de trabalho e ciclos de devoção, assim como marca a maneira de elaborar as imagens de um campo não visível e dos trânsitos da narrativa entre o mundo material e o mundo espiritual. Expressões artísticas populares também são uma presença em diferentes linguagens – carrancas, mamulengos, danças, batalha de cordéis. A narrativa também é marcada por um núcleo argumental político que tanto chama atenção para os impactos sobre a preservação ambiental face o modelo de desenvolvimento que avança aos rincões do país, quanto demarca a trajetória do protagonista e de sua noiva, Celeste, por um posicionamento em favor da vida das comunidades ribeirinhas. Henrique é levado a refletir sobre os sentidos reais de sua presença e atuação por meio da produção de imagens na região. Celeste, também carioca, vem ao interior do Nordeste com o objetivo de surpreender seu noivo e acaba necessitando do apoio de uma rede de pessoas com diferentes profissões, crenças e formas de expressão para chegar até o seu amado. O estudo proposto aborda o filme enquanto um dispositivo que, por meio da linguagem audiovisual, se constitui em um exemplar da cultura das imagens, ao mesmo tempo em que apresenta a imagem de uma cultura. O estudo versa sobre a linguagem audiovisual e seus mecanismos de comunicação visual (MARTIN, 2007; MASCELLI, 2012; BORDWELL & THOMPSON, 2013; BROWN, 2012), a partir da qual se observa a tríade i) imagens do invisível, ou como apresentar em imagens os seres míticos e sobrenaturais da trama, um objeto da direção de fotografia (ALMENDROS, 1992); ii) imagens do que está por desaparecer, discutindo a visualidade das paisagens naturais, do patrimônio cultural e das casas ribeirinhas como objeto da direção de arte (HAMBURGER, 2014) e iii) e imagens do sujeito que fotografa, traçando paralelos performáticos entre o protagonista fotógrafo e fotógrafos da vida real que realizaram o fotolivro Paisagem Submersa (CASTILHO, 2008), com imagens feitas pelos mineiros João Castilho, Pedro David e Pedro Motta que retratam comunidades ribeirinhas que tiveram suas terras parcialmente inundadas em sete municípios do nordeste do estado de Minas Gerais, para formar o lago da Usina Hidrelétrica de Irapé, no leito do rio Jequitinhonha, tendo, assim, o mesmo objeto/dilemas do filme em questão.
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