O tempo parou: percepções sobre casa, interações e aculturação durante o isolamento social

Celso de Araújo Oliveira Júnior, Breno da Silva Carvalho, Isabela Fernanda Azevedo Silveira, Laís Sant’Ana Vitória Régis.

Esta proposta de discussão surge a partir das reflexões a respeito das deformações das noções entre espaço e tempo, nas experiências de indivíduos que foram submetidos ao isolamento social proposto por autoridades médicas e sanitárias, para evitar a proliferação do vírus SARS-CoV-2, durante a pandemia de Covid-19, no ano de 2020. 

Na segunda semana do mês de março, de 2020, as autoridades sanitárias e médicas brasileiras começaram a indicar três tipos de medidas como controle da pandemia de Covid-19, que se alastrava pelo mundo: quarentena, isolamento e distanciamento social. As duas primeiras medidas visam evitar o contato de pessoas que sabidamente estavam infectadas pelo vírus causador da doença, a terceira medida foi sugerida como uma forma de conter o contato social entre indivíduos e, assim, desacelerar a contaminação. Assim, o distanciamento social prescreve que as pessoas devam permanecer em suas residências, saindo de suas casas apenas para atividades imprescindíveis ou para atividades laborais determinadas como fundamentais. Desta maneira, começaram as experiências de indivíduos quase sem contato físico com outros, voltados para atividades do lar ou profissionais, executadas em âmbito doméstico e atravessados por experiências inéditas de relação com os ambientes físicos em que se encontram, com outros agentes (humanos ou não humanos) – quando existentes – e com o tempo colocado compulsoriamente à (in)disposição para seus afazeres.

Nossa mesa propõe uma discussão a respeito de quatro pontos fundamentais sobre modos de interação, trazidos por cada participante, a saber: (1) o professor Dr. Celso de A. Oliveira Jr. (CECULT-UFRB) analisa as relações dos sujeitos com as categorias casa e espaço-tempo, a partir de Bachelard, Withrow e, poeticamente, com a obra de Samuel Beckett; (2) o professor Dr. Breno da Silva Carvalho (UFRN) aborda a dinâmica da digitalização cultural e seus impactos na (re)configuração de processos comunicacionais; (3) Isabela Fernanda Azevedo da Silveira, pesquisadora e doutoranda do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade (UFBA), apresenta os efeitos da mediação das telas para a socialização e a composição do sensível na infância; (4) Laís Sant’Ana Vitória Régis,  psicóloga, mestranda do programa Europeu Erasmus Mundus em Psicologia da Mobilidade Global, Diversidade e Inclusão na Sociedade, relata a experiência de aculturação na condição de pesquisadora brasileira (soteropolitana), em Varsóvia, Istambul e Lisboa, em tempos de pandemia.

Desta forma, estrutura-se uma constelação de saberes a partir de trabalhos articulados: inicia-se no doméstico; projeta-se no comunicacional (seja por meio do digital ou do olhar infantil) para, em seguida, refletir-se no global em diálogo com o sensível. O percurso analítico encerra-se retomando o princípio, ou seja, repousa na reflexão sobre o lugar do sujeito no mundo através de uma perspectiva pessoal. A transversalidade cultural da experiência pandêmica confere expressão e aprendizagem a partir destas distintas formas de interação.

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