Experiências do distanciamento social: sarau virtual como recurso afetivo por meio da arte
Uillian Trindade Oliveira, Tiago Samuel Bassani, Fernanda Monteiro Barreto Camargo
Trata-se do projeto de extensão Sarau Virtual Mande Notícias, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) que por meio das linguagens da arte possibilitou-se o estreitamento dos laços afetivos no momento em que o isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, nos compeliu a reelaborar o conceito de afetividade..
Neste contexto o projeto extrapolou limites geográficos da UFOB, e recebemos afetos do interior da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de janeiro, São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Goiás, Alagoas, e ainda de países como Paraguai, Portugal e Estados Unidos.
A culminância se deu pelo encontro virtual, no dia 5 de junho onde, em diversas linguagens da arte, todos presentes compartilharam modos de vida, reinvenção, angústias, preocupações e acima de tudo, a esperança de dias melhores. Nesta antologia, emoções e pensamentos foram materializados em pinturas, fotografias, desenhos, crochês, mosaicos e esculturas de papel machê.
Interessa-nos, discutir a produção de conhecimentos incorporados numa ação artística que operou a partir da poesia e da visualidade um agenciamento de diferentes contextos culturais, sob uma necessária situação de saúde pública (isolamento social) e que evidenciou potencialidades de conviver numa busca de uma expressividade dos afetos.
Torna-se necessária, revisitar conceito de Experiência (DEWEY, 2010), Estética Relacional (BOURRIAUD, 2009), Partilha do sensível (RANCIÉRE, 2009) e mediação entre afetividade e conhecimento (VIGOTSKI, 2001, 2009, 2010). Compreendemos que nos últimos anos o conceito de compartilhamento está ligado ao simulacro de afeto, visto que apesar da facilidade das inúmeras formas de projeção e comunicação feita pelas redes sociais, tais sentimentos se dão, muitas vezes no campo da exposição.
Sob tal argumento traçamos um entendimento no qual uma partilha leva em conta uma ampla e integrada troca, quando aponta para o partilhamento de “espaços, tempos e tipos de atividades” numa intenção de tomar parte de maneira autoral-participativa não como espectadores numa lógica contemplativa. Se nos atentarmos para as mudanças que as tecnologias causaram na atualidade podemos pensar as redes como difusoras de produtos artísticos, mas torna complexa a identificação de que de fato a arte esteja sendo compartilhada ao invés de divulgada e mostrada. Os campos deste entendimento tornam-se tênue e de difícil esboço quando nos deparamos com inúmeras divulgações de eventos de arte, de trabalhos, páginas de artistas. A divulgação pode ser ao mesmo tempo compartilhamento? Uma exibição de uma mostra ou uma exposição de trabalho on line pode ser entendida como formas de compartilhamento. A troca acontece nesses casos?
Assim ao pensarmos no sarau virtual como uma ação assíncrona, síncrona e colaborativa, podemos ter convicção de corpos ativos a despeito do espaço, que agem em função de uma proposição artística, que difere de exibições supérfluas, que se distanciam dos afetos.
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