Trajetórias geracionais: desenvolvimento e reconfiguração da esfera educativa à luz do impacto da pandemia de Coronavírus

Eduardo Duque, Erivan Ferreira, Maria Divina Ferreira Lima

As instituições educativas passaram por importantes transformações ao longo do século XX. Durante este último século, elas deixaram de ser áreas reduzidas quase exclusivamente às elites, para integrar as pessoas comuns. Este processo envolveu a expansão dos sistemas educativos ocidentais, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, para atingir dimensões sociais e económicas sem precedentes. Concluiu-se, assim, boa parte do programa educativo moderno, para o qual a educação foi um dos principais meios para a constituição de uma sociedade de indivíduos livres e autónomos, com as mesmas oportunidades de desenvolver os seus respetivos talentos.

Mas este programa atingiu rapidamente o seu limite. De facto, no cenário iniciado na década de 70, em que os sistemas educativos apresentavam cada vez mais dificuldades para cumprir as suas promessas, uma série de críticas começou a surgir de ambos os lados do espetro político. Os setores mais progressistas argumentavam que eram estruturas autoritárias e repressivas, que, longe de reduzir as diferenças sociais, geravam cada vez mais desigualdades. Por sua vez, da ala mais à direita, argumentava-se que esses mesmos sistemas eram ineficientes, tanto económica quanto profissionalmente. Neste contexto, os diferentes Estados iniciaram reformas educativas que acabaram por transformar os princípios que legitimaram o projeto educativo moderno. 

Porém, os últimos meses vieram mostrar que o sistema educativo pode sofrer profundas alterações.

Diante de um cenário de angústias e incertezas, provocado pela pandemia do COVID-19, o ensino nas nossas escolas procurou adaptar-se ao novo contexto vital e integrou-se na estrutura de um novo normal. Nenhuma instituição de ensino estava preparada para enfrentar uma transformação para a virtualidade e, menos ainda, para implementar essa estratégia com prontidão para a continuidade do ciclo académico.

Na presente intervenção pretendemos analisar todo este processo, a partir de duas diferentes gerações: a dos pais, socializados fundamentalmente na ética do trabalho e, em termos educativos, com fraca participação académica, e a dos filhos, formada por crianças, adolescentes e jovens que se definem principalmente como consumidores e utilizadores natos das tecnologias. É, portanto, a geração mais plenamente socializada nos valores da tecnologia, que exercerá maior influência nas esferas educativa e laboral, ajudando a transformar as suas expectativas em relação a essas duas esferas, que acabarão por se cruzar na cultura de consumo. Mais do que se incorporar em alguma instituição, o objetivo destes jovens é a autonomia e a libertação. É, portanto, a geração mais disruptiva, com orientação temporal presentista, sem muitos vínculos ou projeções para o futuro.

Em primeiro lugar, será feita uma breve descrição do surgimento e consolidação dos sistemas educativos ocidentais, levando em consideração as principais etapas deste processo. Em segundo lugar, será mostrado como a partir da década de 70, num contexto de profundas transformações dos sistemas de trabalho e produtivos das sociedades ocidentais, as instituições educativas passaram por uma série de mudanças que levaram a repensar o programa educativo moderno em quase todos os seus extremos.

Por último, procurar-se-á refletir sobre o sistema educativo contemporâneo a partir do impacto da pandemia de Coronavírus.

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