Abram alas pros reis: a dimensão psicossocial do rap na promoção de saúde mental da população negra

Ramon Luis de Santana Alcântara, Maria Thereza Milhomen da Cunha Silva, Nathalia Souza Oliveira, Vinícius Ruan Miranda Barros

A proposta da mesa tem por objetivo fazer uma análise interdisciplinar da função política, cultural, social, histórica e psicológica do Rap, destacando-o como mecanismo de enfrentamento aos efeitos psicossociais do racismo e de promoção de saúde mental entre a população negra. Em especial faz-se uma análise do clipe e da letra da música “Hat-Trick” do rapper Djonga, compreendendo sua obra e seu lugar no Hip Hop nacional. Para tal, articula os conceitos de racismo estrutural, branqueamento racial, bem como os estudos sobre os efeitos do racismo na saúde mental da população negra. As pesquisas que compõem a mesa têm como metodologia de trabalho o ensaio teórico, definindo este como um exercício do pensar visando à produção de novos saberes sobre o fenômeno investigado, que podem encaminhar para a formulação de novos conhecimentos filosóficos e/ou científicos. Ao analisar a partir das categorias supracitadas, como racismo estrutural, considera-se importante inscrever essa produção musical e cinematográfica na multidimensionalidade do fenômeno artístico, que entrelaça as dimensões política, social, cultural e psicológica. As análises que compõem a mesa têm como fundamentos teóricos os estudos decoloniais, notadamente o conceito de colonialidade do ser, a partir das teorizações do pensador mexicano Nelson Maldonado-Torres. Faz-se uso também das contribuições da obra de Franz Fanon, no aspecto do entendimento dos processos de subjetivações e identitários na produção de sujeitos a partir da experiência colonial. Entende-se racismo estrutural tomando como base os estudos de Silvio Almeida e branqueamento racial a partir da Psicologia Social de Maria Aparecida Bento. Nesse sentido, toma-se que as relações étnico-raciais historicamente construídas no Brasil, a partir de sua colonialidade e sobre o solo de seu racismo estrutural, atravessam o processo de construção de identidade de pessoas negras, repercutindo na sua saúde mental. Esse cenário, ao qual o Rap, e em especial “Hat-Trick”, se inscrevem, aponta para a necessidade da problematização da política de branqueamento racial promovida pelo Estado e pela sociedade no país. Tendo sua origem ligada às periferias, o Rap, a vertente musical do movimento Hip Hop, constitui um instrumento que possibilita a manifestação da resistência (ou como apontam os estudos decoloniais, da “re-existência”) da juventude negra. Essa re-existência se situa frente ao racismo estrutural e a naturalização do branqueamento, que têm por finalidade exterminar ou inferiorizar tudo que é da ordem negra, como articula Achille Mbembe. Desta forma, política e cultura se apresentam em um cenário social e histórico, como dimensões que possibilitam entender processos psicossociais, como a afirmação identitária de jovens negros enquanto promoção de saúde mental. O atual momento demonstra uma maior difusão do Rap pelo país, sendo observada uma maior divulgação dos artistas, músicas que viram hits, participações em festivais nacionais de música, com um público consumidor majoritariamente composto de jovens negros, moradores da periferia. Portanto cabe investigar possíveis impactos na formação da identidade desses jovens negros, assim como avaliar a importância da produção de imagens e representações negras nas produções culturais, com ênfase no gênero musical do Rap, considerando-o como exemplo de ação política na luta antirracista

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