Interfaces e Comunicações sociais: o conhecimento decolonial

Julio Cesar de Sá da Rocha, Laís Fonseca do Carmo, Gerson Conceição Cardoso Júnior, Jeferson Brandão Bomfim, Rebeca de Souza Vieira

A palavra e o Trauma – Gerson Conceição Cardoso Júnior

Neste trabalho, o expositor abordará o capítulo 9 de Grada Kilomba “A palavra N. e o Trauma”, refletindo como o racismo se materializa através de um jogo de palavras e discursos de difícil percepção, carregando verdadeiras violências simbólicas e reproduzindo cenas do colonialismo.  Registrará que a autora traz o racismo compreendido coletivamente na perspectiva da opressão social, brutalidade e dor. A partir das lições de Grada, o expositor apresentará como os negros são representados no imaginário social dos brancos, destacando que a mulher negra sofre as maiores vulnerabilidades na sociedade. Neste momento, será feito um resgate do nosso processo de colonização para exibir o motivo pelo qual, por exemplo, é atribuído ao negro o esteriótipo do infrator em potencial. Refletir-se-á a maneira como atos racistas são encenados no dia a dia da sociedade, colocando a pessoa negra em situação de subalternidade. Destacará como os corpos negros são objetos de desejo da branquitude que, ao mesmo tempo, busca destruí-los. Trará que o sujeito negro acaba sendo reduzido à fisicalidade, sendo seus corpos percebidos apenas em determinadas profissões. Frisará como o racismo, por meio das palavras e atos, deixa dores e traumas às vitimas. O expositor, neste ensejo, discorrerá como o processo de construção da subjetividade negra é dificultoso e dolorido numa sociedade racista, classista, elitista, sexista e homofóbica.  Outrossim, ressaltará que o racismo acaba gerando reflexos no corpo da pessoa ofendida. Mostrará como o racismo se opera de forma sutil, sofisticada, estratégica, numa sociedade que hierarquiza relações e categoriza pessoas, mantendo integrantes de grupos raciais minoritários em posições de subalternidades. Retrará como o racismo poderá ser compreendido na perspectiva de teatralização, segundo Grada, exemplificando como cenas de cunho discriminatório ocorrem no dia a dia. Por fim, fará uma reflexão entre o racismo materializado por meio de palavras e discursos e produções culturais. Percebemos que, na maioria das vezes, há um apagamento da cultura negra em face da manutenção do pacto narcísico da branquitude. Nos meios de comunicação, ou o negro é vítima reiteradamente de racismo recreativo ou não está em posição de destaque, tendo suas respeitabilidades socais reiteradamente violadas.

Quem pode falar na Decolonização do Conhecimento? – Laís Fonseca do Carmo

Em sua obra Memórias da Plantaçãp, Grada apresenta o pensamento de Gayatri C. Spivak (1995) em “Pode a subalterna falar?”. Segundo a autora, a questão do silenciamento pode ser vista como uma afirmação sobre as relações coloniais em geral. Assim, Grada demonstra inverter essa prática a partir de suas aulas e da colocação de questões que naturalmente são respondidas por seus alunos negros e muitas vezes não mencionadas pelos alunos brancos, tendo a partir dessa experiência, a percepção de que o conhecimento está intrinsecamente ligado à autoridade racial. Geralmente, as pessoas pretas estão acostumadas a serem objeto de estudo e não sujeitos de fala, ou seja, o sujeito que conta a sua história a partir de sua vivência. Ela, nesse momento, tira da academia o seu mito de neutralidade, por ser um espaço majoritariamente branco, e quando o sujeito negro tenta se expor da mesma forma, é tido como “muito específico ou muito subjetivo”. É apresentado então um paralelo entre universal/específico, objetivo/subjetivo, neutro/pessoal. E é perceptível que estes antagonismos detêm uma dimensão hierárquica que preserva a branquitude e determina quem pode falar e quem tem a legitimidade para isso. Em seguida, ela chama a atenção para a tarefa de descolonização do pensamento. Essa descolonização é importante para que se considerem outras formas de pensamento que não se enquadrem na ordem eurocêntrica e outras epistemologias. Pois, existe nesse contexto a desvalorização do discurso de intelectuais Negras sistematicamente. Há a irracionalização do pensamento das mulheres assim como acontece com a irracionalização do pensamento das pessoas negras dentro da academia pois é a dinâmica entre raça, gênero e poder que define como as pessoas devem ou não se expressar. Kilomba afirma que “no racismo, corpos negros são construídos como corpos impróprios, como corpos que estão “fora do lugar” e, por essa razão, corpos que não podem pertencer.” Nesse contexto, Grada evoca a necessidade de uma epistemologia que contemple o pessoal e o subjetivo como parte do discurso acadêmico pois as pessoas negras falam de um tempo e lugar específicos em que lhe foi permitido falar. Grada nos lembra que a teoria é sempre escrita e se torna clássica a partir do olhar de alguém. E a partir do momento que essa escrita parte da realidade de mulheres intelectuais negras, parte também da realidade da vivência, que transgride a linguagem do academicismo clássico. Qual é, portanto, o peso de estar nesse ambiente acadêmico? O quanto isso custa emocionalmente? A autora percebe que apenas somos ouvidos se nos enquadrarmos em uma linguagem familiar e confortável para o grupo dominante. Por fim, ela apresenta os termos da margem e do centro, trabalhados por Bell Hooks. A margem, para elas, seria não apenas um espaço de perda e privação, mas um espaço de resistência e possibilidade onde novos discursos críticos são formados. É a possibilidade da liberdade, de se tornar sujeito e não apenas objeto.

Quilombismo, Políticas e Arte: um olhar sobre o Brasil no Exterior – Rebeca de Souza Vieira

A política nacional leva para fora do Brasil um olhar distorcido sobre o povo e os problemas sociais, causados pela falta de assistência e inclusão, neste caso, do negro brasileiro; Mas esse olhar é apenas o reflexo do que ocorreu e ocorre em nosso país, o massacre físico, psicológico e cultural do povo negro. O Brasil vende uma imagem de que certos povos sofrem mais as mazelas sociais por conta de questões próprias, porém os povos marginalizados carecem de recursos e acabam sendo submetidos a condições sociais e políticas precárias; Além dessa visão, a suposta democracia racial brasileira faz o palco para que a política adote esse discurso de forma mais sutil, criando no imaginário internacional legitimidade que ampare seu discurso. Na Obra Quilombismo de Abdias do Nascimento, é apontado esse posicionamento do Estado e seus passeios sobre os aspectos étnicos e raciais e os sistemas capitalista e comunista. Assim a proposta aqui é trabalhar esse olhar distorcido que o Brasil reflete para o exterior, abordar a política de embranquecimento e a teia entre essas discussões no tocante ao marxismo e ao comunismo; Toda a análise será pautada a partir da arte feminina negra nacional que vem sendo produzida e vem servindo de ferramenta como legado histórico para descortinar as farsas que são criadas diante da posição política nacional, como a literatura de Maria Carolina de Jesus que ganha notoriedade em 1960, e as contemporâneas Tássia Reis com a música Preta D+ e Elza Soares, com a música O Que Se Cala.

Quilombismo e Linguagens – Jeferson Brandão Bomfim 

Partindo da obra de Abdias Nascimento, pode-se inferir acerca da proposta d’O Quilombismo descrita pelo autor, cujo conteúdo versa sobre a viabilização de narrativas da história do povo negro, as diversas lutas contra o seu silenciamento identitário, e seu consequente apagamento, a partir da análise das dinâmicas de não-projeção de personalidades e aniquilamento de línguas cujo adensamento étnico era incontestável. Assim, o documento 2 dessa obra contempla elementos de diversos aspectos para rastrear, mapear e analisar as formas diversificadas de opressão colonizadora. Deste modo, avalia a não-unidade linguística em território africano como um dos fatores que propiciaram ao colonizador “praticar e praticizar” a fragmentação da população nativa à época, e de como hoje o meio acadêmico parte de uma perspectiva eurocêntrica para impor seus letramentos cuja excludência inerente não contempla formas africanistas de conceber e desenvolver o conhecimento. Abdias cita os quilombos como elementos de organização política fundamentais no contexto do processo de re-existência da população africana em territórios nativos ou em diáspora. As revoltas no estado da Bahia e os levantes liderados pela nação Iorubá são indicados como movimentos cuja natureza é denotativa de um povo que não acatava de forma passiva os acontecimentos engendrados pela branquitude colonialista. Tais insurreições são presentes até hoje em uma negritude que sobrevive nas “ausências”, transitando em territórios de rebeldia pela sua simples existência. Em seu documento, Abdias cita a história do rei africano Chico-Rei escravizado no antigo território das Minas Gerais e fala sobre o baiano Luis Gama e do carioca José do Patrocínio. 

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