Conceito renovado: por um saber periférico no combate ao genocídio da juventude negra
Geise Oliveira, José Roberto Severino
A estigmatização sofrida por moradores de comunidades periféricas, sobretudo pessoas negras e negros, bem como as estratégias de mobilização social e comunitária a fim de garantir a sobrevivência e permanência do território, são pretensões deste artigo que será embalado pela letra da música “Conceito” da Banda Fantasmão (2006) e costurado por reflexões de um grupo formado por autores e pesquisadores acadêmicos, negros e militantes:
Serão desenvolvidas neste artigo, as ideias postuladas por cinco autores: Frantz Fanon, que no livro “Pele negra máscaras brancas” (1952) traz à tona as diversas facetas do racismo, que a partir de uma ideologia que ignora a cor, reforça o preconceito e o torna maquiado; o conceito de Arkhé trabalhado pelo autor Muniz Sodré em seu livro Pensar Nagô (2017), com a pretensão de identificar e teorizar sobre a existência de um sentimento de cuidado comum nas comunidades; o olhar do autor e professor Adalberto Santos que, em seu livro “Tradições populares e resistências culturais” (2011), busca compreender como os caminhos percorridos pelas sociedades contemporâneas permitiram o surgimento de iniciativas autônomas articuladas no campo da cultura; as ideias da autora Nilma Lino Gomes que em seu livro “O movimento negro educador” (2017) firma um pensamento sobre o papel do Movimento Negro brasileiro na condição de educador e produtor de saberes emancipatórios. Mas na contagem falta um autor, né isso? A quinta autora é a que vos fala.
Pode parecer coincidência, mas a escrita deste artigo é costurada por uma ideologia que tem cor e interesse, e que, por este motivo, optou por trazer autores negros. Traz-se aqui a visão da pesquisa orgânica, que vislumbra a vinculação da militância com a produção acadêmica ou uma teoria militante, que recorre a pesquisadores que, a partir das suas ideologias e vivências, pretendem apresentar para o mundo que “quem mora no gueto não é ladrão” (Bordão presente na letra da música “Conceito” (Banda Fantasmão, 2006).
As práticas de ativismo e combate às opressões sofridas pelas populações negras seguem imbricadas nas mais diversas frentes de trabalho, mas nota-se até aqui que a contribuição do movimento negro influenciou na configuração de uma nova forma de fazer militância, dialogando com um público que em geral não conversa sobre política mas é diretamente afetada pela forma como ela opera. Nesse sentido, o pagode aparece como uma estratégia mobilizadora e acessível para jovens que são vítimas diretas do genocídio. Uma vez que existe uma política velada de extermínio que foca nas juventudes negras que, obviamente, frequentam os espaços de lazer nas periferias.
Este trabalho discorre sobre ideias e postulados de autores que debruçam a sua escrita relacionando militância negra e pesquisa acadêmica. Aqui, priorizou-se relacionar as formas periféricas e comunitárias de pensar, trazendo questões inerentes ao saber filosófico construído a partir da pesquisa empírica e da visão de futuro, considerando, sobretudo, que em meio a tempos temerosos, não é aceitável produzir teorias que não sejam emancipatórias.
REFERÊNCIAS
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas; tradução de Renato da Silveira. Salvador, BA: EDUFBA, 2008.
GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
SANTOS, Adalberto. Tradições populares e resistências culturais: políticas públicas em perspectiva comparada. Salvador, BA: EDUFBA, 2011.
SODRÉ, Muniz. Pensar Nagô. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
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