A vida de São Jorge

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Autoria Max Freitas Bittencourt

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A vida de São Jorge é um documentário fruto de uma experiência vivida pelo pesquisador-documentarista no Centro Espírita Umbandista e Kardecista São Jorge, extremo oeste da Bahia, Brasil, entre 2016 e 2019, e se constitui de registros audiovisuais e fotográficos dos ensaios de um espetáculo teatral criado e encenado pelos próprios médiuns do Centro, que são as filhas e filhos de santo da casa de Mãe Maria, a ialorixá da comunidade. O espetáculo é realizado em homenagem ao santo guerreiro e apresentado ao público em vinte e três de abril, mesmo dia da Festa de São Jorge no centro espírita, um acontecimento maior do qual a peça teatral faz parte. Inicialmente, o projeto do cineasta, docente na Universidade Federal do Oeste da Bahia, era registrar a manifestação artística e cultural que acontece em Santana, no oeste do estado da Bahia, há mais de quinze anos. Por ser esta a região que abriga o campus no qual leciona Audiovisual para estudantes de Publicidade e Artes Visuais, achou relevante produzir tal registro. Nesse sentido, formou um grupo de extensão, vinculado à universidade, e agregou os estudantes mais interessados pela produção de audiovisuais com o objetivo de produzir imagens do fenômeno artístico a fim de, posteriormente, deixar para a comunidade como uma memória, e, para os estudantes da instituição federal, um conteúdo relevante sobre aquele território. No entanto, com a inserção na comunidade para as filmagens, o pesquisador e documentarista foi deslocando o seu olhar e seu interesse para os próprios brincantes, os médiuns do terreiro, suas singularidades, gestos, expressões e ações na tomada, seus modos, enfim, de se comportarem diante da câmera. Então, na montagem final, os ensaios da peça se tornaram um pano de fundo para que aqueles sujeitos ordinários e tradicionalmente invisibilizados socialmente pudessem se expressar. O filme mostra os depoimentos dos principais personagens reais envolvidos na produção do espetáculo teatral, que fabulam ao inventar a si mesmos para a objetiva e para o cineasta. A apresentação do espetáculo para o público, durante a Festa de São Jorge, também foi filmada e compõe a montagem, assim como algumas imagens de arquivo que trazem de volta e ressignificam imagens de edições anteriores da festa, realizada há mais de trinta anos na cidade. O documentarista busca, na montagem do filme, mais de um ano depois da última diária de filmagem no terreiro, redescobrir, na observação diferida das imagens brutas daquele processo, de que forma os encontros filmados com a comunidade, até abril de 2019, se conformaram no plano da imagem. Em um relato narrado em primeira pessoa, apresenta no filme o seu ponto de vista sobre a experiência no terreiro de São Jorge, a comunidade e os atores sociais dos quais se aproximou, ao mesmo tempo em que reflete, através dos mecanismos da linguagem audiovisual, sobre a produção de representações e a verdade do documentário em si, que está, sobretudo, em seu próprio processo de realização.