Bruno Otávio de Lacerda Abrahão, Carlos Ferreira Filho, Edinei Gonçalves Garzedin, Jessica Belon, Paulo Gonçalves
A capoeira prima pela pluralidade. São várias as instituições destinadas ao seu ensino, desde formas mais tradicionais (Regional e Angola), até concepções mais modernas, levando-nos a pensar em “culturas” para dar conta da riqueza de sua diversidade. Uma das narrativas fortes sobre o seu surgimento remete à região portuária da cidade de Salvador onde, entre um trabalho e outro, estivadores praticavam-na. Concebidas pela elite soteropolitana como espaço privilegiado para a criminalidade, representada por comportamentos antissociais das camadas populares, as ruas eram territórios onde os praticantes podiam divertir-se, encontrar-se nas rodas da capoeira, promovendo um choque nas atribuições que cada grupo social dava ao espaço público. As ruas de Salvador eram palcos de arruaças e brincadeiras contínuas de uma prática cultural que estava presente na identidade social dos baianos. Uma relação entre a capoeira e a geografia da cidade, identificada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) destaca que, das vinte freguesias que compunham a cidade de Salvador, naquele início de Século XX, três se destacaram como áreas de maior concentração de capoeiras. Em ordem decrescente: o Pilar, que ficava na cidade baixa; e a Sé e a rua do Paço, que ficavam na cidade alta. O Barracão de Valdemar, na Liberdade, é outro ponto geográfico com a marca da capoeira e vale ainda ressaltar as festas populares como cenário para acontecimento das rodas. Nesse contexto, o objetivo desta proposta de mesa é problematizar a presença da capoeira na geografia da cidade, mapeando a ocupação das ruas de Salvador pela mesma, através de literatura que abordou a sua relação com os aspectos históricos e socioculturais, ao longo do Século XX e nos dias atuais. Compreender quais foram estes lugares e onde estão podem nos fornecer um mosaico dos territórios de maior incidência da capoeira na cidade, podendo tê-los como lugares de resistência cultural. Os primeiros indícios de resultados dão conta que os territórios culturais dos capoeiras de outrora se articulavam nos espaços públicos da cidade, afirmando identidades sociais, demarcando espaço e dando visibilidade a capoeira baiana; essa dinâmica valorizou os saberes ancestrais e potencializou a arte do corpo na luta, no jogo, no universo lúdico em espaços variados, ampliando o repertório das linguagens que constroem as diferentes áreas da cidade . No decorrer do século XX, a capoeira disseminou-se pelos mais variados espaços da capital da Bahia, construindo identidade social formação humana do baiano, reforçando a pujança cultural desta cidade. O último recenseamento, encontrado no livro “A capoeira em Salvador: registro de mestres e instituições”, organizado por Alex Pochat e publicado pela Editora Fundação Gregório de Matos no ano de 2015, levantou 168 núcleos de capoeira na cidade. Radicados em diferentes espaços na geografia da cidade, estas instituições estabelecem vínculos com a cultura local. Ao situar o lugar de cada instituição na cartografia da cidade, teremos um panorama de quais são os lugares em que a diversidade da cultura da capoeira se propagou e atualmente segue perpetuada na cidade
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